“Não
temos medo”, tornou-se o refrão repetido vezes sem conta, depois
de cada atentado nalguma cidade europeia. Em Barcelona voltou a
ecoar, na voz, nas faixas e cartazes, nas redes sociais de quantos
quiseram, por um lado, solidarizar-se com as vítimas e, por outro
expressar uma posição de princípio em relação aos atentados.
Afirmar
que não temos medo perante a loucura de quem mata de forma bárbara
e aleatória é importante como expressão da nossa vontade colectiva
de nos mantermos firmes enquanto comunidade estruturada sobre os
valores da civilização ocidental. Dizer que não temos medo é
afirmar que os atentados não nos farão alterar uma certa forma de
viver e estruturar a vida no espaço público. Neste sentido, supõe
a expressão de uma suposta identidade, suficientemente definida,
firme e partilhada para ser chão comum onde firmemos os pés e a
voz.
Será?
Seria
bom.
Mas
a verdade é que a “Europa” vive tempos de difusão da
identidade. Há uma deriva individualista e fragmentária que parece
tornar cada vez mais difícil afirmar quem somos enquanto comunidade,
povo, civilização. A expressão mais exuberante – e inconsequente
– desta identidade difusa é o politicamente correcto. Assenta em
múltiplas expressões de supostos valores, inquestionáveis à
superfície, mas sem mais raíz que a soma de egoísmos avulsos.
Episódios
como o dos blocos de actividades da Porto Editora, censurados pelo
governo português, em nome de uma suposta promoção da igualdade de
género, é apenas uma das expressões mais ridículas desta corrente
cheia de nada, mas muito ruidosa.
É
este “politicamente correcto” que torna difícil, por exemplo,
olhar para o terrorismo islâmico sem areia nos olhos. É por isso
que por trás dos “não temos medo” que vão irrompendo como
poesia oca, há sempre uma incapacidade de traçar limites e
fronteiras claros, atribuir responsabilidades, actuar sem
constrangimentos.
Vale
a pena continuar a afirmar que não seremos derrotados pelo medo. Mas
mais importante que isso é sermos capazes de afirmar quem somos.
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