Tens fósforos?



Há aí mais alguém que esteja tão cansado de números como eu? Ainda agora ouvi que temos uma quebra de 1 900 milhões de euros de défice a mais nas contas do estado, o que equivale a cerca de 1,3% do PIB. E isto implica mais medidas de austeridade, segundo dizem.
Não sei, exactamente, o que isto significa.
Ou melhor, sei; mas não muda nada nas minhas opções diárias. Porque não há nada nas minhas opções diárias que possa mudar estes números.
E esta constatação é importante.
Porque o discurso da desgraça nacional, dos grandes números, do défice, da troika e, por inerência, desta urgência de austeridade, é feito à margem daquilo que é a minha circunstância e a circunstância da maioria das pessoas que conheço.
Mas sei, porque não há ingenuidade nesta análise, que haverá consequências para mim e para o meio social em que existo e sou.
E sei, também, que a melhor resposta a esta depressão institucionalizada, é a persistência de um estado de espírito contra-corrente.
Temos dois grandes caminhos, no que se refere à nossa resposta individual, ao espírito deste tempo que vivemos: ou embarcamos nesta corrente de desânimo, de pessimismo e desencanto, ou enfrentamos estes tempos agrestes de peito aberto e firme esperança.
Nisto há poesia e romantismo. Facilmente desmontável pelo hodierno pragmatismo que comanda a polis. Mas pragmatismo não significa lucidez. E só há luz quando alguém insiste em acender um fósforo no meio da escuridão. Sou dos que apostam tudo no fósforo...

2 comentários: