Celebra-se hoje o 25º aniversário da queda do muro
de Berlim. Não tendo sido nem o princípio, nem o fim, do complexo processo de
reorganização geo-político pós-guerra fria, aquele muro a caír aos pedaços foi
o símbolo mais visível do fim de uma era.
Durante mais de
28 anos, de 1961 até 1989, Berlim ocidental foi um enclave cercado, em
território de influência soviética. O muro dividiu a cidade, dividiu a Alemanha
e dividiu o mundo. Duas cosmovisões políticas, dois sistemas económicos, dois
blocos opostos. E um muro.
A União
Soviética desmembrou-se, a guerra deixou de se chamar fria, nasceram ou
renasceram novas fronteiras e o mundo, no seu conjunto, passou por uma
reorganização difícil de imaginar no momento em que os primeiros berlinenses
bateram palmas no cimo daquele muro.
Quem esperava
resultados simples, de vencedores e vencidos, depressa se deu conta que não ia
ser bem assim. E, ao celebrar este 25º aniversário, aí temos o senhor Putín e o
caso ucraniano a lembrar que onde cai um muro de pedra, outros se levantam.
Os muros de
betão e arame farpado não desapareceram. Aliás, proliferaram. Existem, neste
momento, cerca de 50 muros da vergonha, espalhados por todo o mundo. A maior
parte deles construídos no contexto de políticas de imigração: fronteiras entre
países ricos e países pobres são sempre bom alicerce para um muro que mantenha
os esfomeados do lado de fora.
Nos Estados
Unidos, na fonteira com o México, há 3200km de “muro”, feito de painéis de
metal com mais de 4 metros de altura, sensores infra-vermelhos, torres de
vigia, câmaras e radares. Desde 1991, já morreram mais de 5600 pessoas a tentar
atravessar.
Em Ceuta e
Melilla, cidades espanholas no norte de África, dois muros de 8 e 12 km,
respectivamente, mantêm a sul os milhares de africanos que continuam a sonhar
com uma entrada na Europa. Vedações de arame farpado, sensores de ruído e
movimento, câmaras e torres de vigia custaram 30 milhões de euros, financiados
pela União Europeia.
No Médio
Oriente, Israel continua a construír o que chama “barreira de Segurança”: um
muro de cimento armado e aço, com vedações electrificadas e valas de protecção.
Os palestinianos, que se vêem progressivamente cercados, dão-lhe outro nome: “
muro do apartheid”. Se for concluído (faltam 30%), terá 810 km. E será – já é!
– uma excelente razão para continuar o conflito…
Há outros,
muitos outros, muros de betão, arame, aço e o que mais se invente. Mas o pior
de um muro, não é o muro. É a desigualdade, a injustiça e o medo. E contra
isso, não há muro que resolva.
Publicado no Jornal de Mora
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